segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Ajuda Divina

Muitas vezes, ficamos reclamando e pedindo incessantemente a Deus que nos ajude, só que na verdade, geralmente, o pedido oculto é para que Ele nos salve. Queremos que um milagre aconteça para que possamos sair do buraco em que estamos -às vezes, é assim que nos sentimos-, sem que, para isso, precisemos fazer algum esforço. Acreditamos que fizemos tudo "direito", que não cometemos erros, que o que está nos acontecendo de ruim "não é nossa culpa" e, com isso, nos sentimos até mesmo vitimizados e excluídos dos Planos de Deus. Quanto mais acreditamos nisso, mais ficamos choramingando, reclamando e pedindo ajuda a "Deus e a todo mundo". Mas nunca estamos satisfeitos com a ajuda que recebemos, estamos sempre nos sentindo contrariados e não compreendidos. As pessoas que resolvem nos estender as mãos nunca o fazem da forma conforme gostaríamos e acabamos não aceitando ou não reconhecendo o apoio que nos oferecem. Desvalorizamos e desqualificamos toda a ajuda que não seja exatamente de acordo com o que queremos e acreditamos ser o que estamos precisando.

Isto ocorre porque nosso Ego acredita saber o que precisamos e como a ajuda deve ser e acontecer. Ele só quer que melhoremos e nos sintamos bem e felizes e, para isso, busca fórmulas mágicas, práticas e imediatas de trazer aquilo que ele, em sua ignorância, necessita. O Ego quer que o mundo à nossa volta mude, ele acredita que sempre fazemos tudo certo e que os outros são errados e querem nosso mau e, para mudar o mundo, ele quer que possamos encontrar meios de nos fortalecermos, através da ajuda, para manipularmos e controlarmos a tudo e a todos.

Se ficarmos presos a isso, só atrairemos as "ajudas erradas" e jamais estaremos prontos para receber a ajuda real e divina. E, quando esta bater à nossa porta, não a reconheceremos, pois estaremos com uma vibração tão negativa que não conseguiremos sentir e perceber a vibração divina e sutil que a real ajuda emana.
Mesmo porque, a ajuda divina, nem de longe é a ideal, para nosso Ego ignorante, arrogante e prepotente. Refiro-me ao Ego desta forma, quando ele está em uma condição de desequilíbrio, pois precisamos do Ego, mas desde que ele esteja saudável e alinhado ao nosso Eu Real, e atuando em parceria e sob o comando deste. Conseqüentemente, quando a ajuda divina chega, o Ego a rejeita e reclama mais intensamente. Normalmente, ela contém as condições e características que mexem com a nossa realidade interna, fazendo-nos sentir incômodo e até mesmo irritabilidade, em determinados contextos. Esta é uma reação do Ego tirano que não quer de verdade ser ajudado, só quer ser salvo, para continuar no poder e controlar o mundo ao seu bel prazer. Assim, ele a descartará ou, pior ainda, fará de tudo para nos afastar da dela, para não correr o risco de nosso coração se manifestar com a proximidade da vibração divina e nos fazer sentir e perceber que essa é a ajuda que de verdade precisamos. O coração nos dirá: Ela parece estranha, dará trabalho para sair disto e assumir a responsabilidade, mas é desta ajuda que preciso e que vou aceitar!

Mas o Ego abomina toda e qualquer possibilidade, mínima que seja, de que nosso coração se desperte diante de um apoio verdadeiro. O coração nos levará à entrega ao nosso Eu Real e, este sim, sabe que tipo de ajuda realmente precisamos.

Esta ajuda divina nos trará todas as condições iniciais necessárias para que possamos de verdade sair do atoleiro em que nos colocamos. Sim, nós nos colocamos, não é a vida nem ninguém que faz isso conosco. Portanto, aqui já deparamos com a auto-responsabilidade e esta nos dá trabalho e nos assusta. Aqui o Ego se defende e se manifesta, e nos faz sentir uma imensa preguiça e nos faz acreditar que será impossível sair do atoleiro através das opções de apoio apresentadas.

A ajuda divina nos mostra que o caminho verdadeiro que nos tirará do atoleiro, é o caminho para dentro. De qualquer forma que essa ajuda se manifeste, ela nos levará a olhar para dentro de nós para encontrarmos todas as respostas, aspectos negativos, verdades ocultas, conhecermos a nossa responsabilidade sobre tudo o que nos acontece e, principalmente, nos levará a encontrar todos os potenciais, capacidades, ferramentas e dons necessários, não só para sairmos do atoleiro, mas, principalmente, para darmos uma guinada em nossa vida e nunca mais retornarmos à condição lamentável em que estávamos.

Com isso, nossa consciência desperta para esta verdade, mas de uma forma que nos leva para além de um simples conceito -conforme estamos cansados de saber-, e nos leva a sentir essa verdade no fundo do nosso coração. Conseguiremos compreender com a alma o significado daquilo que viemos ouvindo por muito tempo, mas que nunca conseguíamos de fato trazer para nossa realidade divina e verdadeira, trazendo-nos, assim, as possibilidades de verdadeiramente efetuarmos mudanças e realizarmos nosso propósito de vida.


A ajuda divina nos mostrará que de nada adianta mantermos a condição anterior, de buscar ajuda da forma errada e sem querermos fazer nossa parte, e de nunca estarmos satisfeitos com o apoio que recebemos, sempre exigindo mais e mais das pessoas que nos ajudam, mas nunca aproveitando e apreciando o que nos oferecem. Ou fazemos a nossa parte e buscamos nossas realizações ou ficaremos eternamente atolados em nossas próprias armadilhas.

Se estivermos verdadeiramente dispostos e prontos a nos ajudar, a ajuda divina chegará e a reconheceremos imediatamente. E, principalmente, saberemos como aproveitá-la e como utilizá-la de forma sábia e proveitosa em nossa vida.

Deixo aqui uma sugestão: Ajude-se, tome uma atitude madura diante de si mesmo e só busque ajuda se, de verdade, estiver disposto a sair de suas dificuldades, com seus próprios recursos internos. O apoio que vier em verdade será apenas para te fazer acreditar mais em si mesmo para que prossiga com segurança e determinação.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Conhecer-se


A única coisa impossível na vida é fugirmos de nós mesmos. Somos a nossa verdadeira, real e permanente companhia. Entretanto, vivemos mais focados na realidade do mundo exterior do que em nossa própria interioridade.


É incrível como a maioria dos seres humanos é um completo desconhecido para si próprio; vive de acordo com as regras e crenças que lhe foram impostas e, dificilmente, pára para refletir se aquilo que pensam ou sentem faz, de fato, sentido para elas.

A vida inconsciente constitui, de certo modo, um refúgio seguro para muitos, pois, ainda que a angústia e o sofrimento estejam presentes, sentem-se confortáveis em seu mundo já conhecido.


Mergulhar fundo na tarefa de conhecer a si mesmo é um processo doloroso, que poucos estão dispostos a encarar. Somente quando a insatisfação atinge níveis insuportáveis é que somos impelidos a sair de nossa zona de conforto e ir em busca de nossa verdade.


Ainda que a jornada seja cheia de sustos e retrocessos, sempre valerá a pena empreendê-la, pois os ganhos certamente superarão toda a luta. No final, descobrimos surpresos que aquilo pelo qual ansiávamos já estava ali, bem ao nosso alcance. Entretanto, gastamos um tempo precioso nos escondendo de nossa própria interioridade.


Adentrar nossos porões e encarar as sombras que ali habitam, por mais medo que nos cause, é o único meio de podermos, finalmente, deixar florescer a luz, e viver de modo pleno a verdadeira realidade de nosso ser.




"Parando de se esconder de si mesmo
O homem nasce sozinho e morre sozinho, mas, entre esses dois pontos, ele vive em sociedade, ele vive com os outros.




Solidão é sua realidade básica; a sociedade é simplesmente acidental. E a menos que o homem possa viver sozinho, possa conhecer sua solidão em sua total profundidade, ele não pode se familiarizar consigo mesmo. Tudo o que acontece em sociedade é apenas externo: não é você, é apenas suas relações com os outros. Você permanece desconhecido. Pelo lado de fora, você não pode ser revelado.


Mas nós vivemos com os outros. Por causa disso, o autoconhecimento fica completamente esquecido. Você sabe alguma coisa de você, mas indiretamente - é algo dito a você pelos outros. É estranho, absurdo, que os outros devam lhe dizer sobre você. Seja qual for a identidade que você carregue, ela é dada a você pelos outros; ela não é real, é uma rotulação.


...Esta é a ansiedade básica. Você existe, mas você é um desconhecido para si mesmo. Esta falta de conhecimento da pessoa sobre ela mesma é a ignorância, e esta ignorância não pode ser destruída por nenhum conhecimento que os outros possam lhe dar.


...A menos que você chegue até si mesmo diretamente, você permanecerá na ignorância. E a ignorância cria ansiedade. Você não tem somente medo dos outros, você tem medo de si mesmo - porque você não sabe quem você é e o que está escondido dentro de você. O que será possível, o que irromperá de você no momento seguinte, você não sabe.


Você permanece apreensivo e a vida se torna uma ansiedade. Há muitos problemas que criam ansiedade, mas esses problemas são secundários. Se você penetrar profundamente, então, cada problema no final revelará que a ansiedade básica, a angústia básica, é que você é ignorante de si mesmo - da fonte de onde você vem, do fim para o qual você está se movendo, do ser que você é exatamente agora.


Daí, toda religião dizer para se entrar em solitude, na solidão, de modo que você possa por um tempo deixar a sociedade e tudo o que a sociedade lhe deu, e se encarar diretamente.


...a supressão é a enfermidade. É uma carga, uma carga pesada. Você gostaria de confessar a alguém; você gostaria de dizer, expressar; você queria que alguém aceitasse você totalmente. É isso o que significa amor - você não será rejeitado. O que quer que você seja - bom, mau, santo, pecador - alguém aceitará sua totalidade, não rejeitará nenhuma parte sua.


Eis por que o amor é a maior força curativa, ele é a mais antiga psicanálise. Sempre que você ama uma pessoa, você está aberto a ela, e só por estar aberto, suas partes cortadas, divididas são religadas - você se torna um.




...Como descobrir o essencial? Buda saiu em silêncio durante seis anos. Jesus também foi para o ermo. Seus seguidores, os apóstolos, queriam ir com ele. Eles o seguiram e a certo momento, num certo ponto, ele disse: "Parem. Vocês não devem vir comigo. Agora, eu devo ficar sozinho com meu Deus". Ele entrou no deserto. Quando ele saiu de volta, ele era um homem totalmente diferente: ele tinha se defrontado consigo mesmo.


A solidão torna-se o espelho. A sociedade é o engano. Eis por que você tem medo de ficar sozinho - porque você terá de se conhecer na sua nudez, na sua ausência de ornatos. Você tem medo.


Ficar sozinho é difícil. Sempre que você está sozinho, você imediatamente começa a fazer alguma coisa, de modo a não ficar sozinho. Você pode começar a ler o jornal, ou talvez você ligue a TV, ou você pode ir a um clube para se encontrar com alguns amigos, ou talvez visitar alguém da família - mas você tem de fazer algo. Por quê? Porque no momento em que você está sozinho sua identidade se derrete, e tudo que você sabe sobre si mesmo fica falso e tudo o que é real começa a vir à tona.


Todas as religiões dizem que o homem tem de entrar em retiro para conhecer a si mesmo. A pessoa não precisa ficar lá para sempre, isso é inútil; mas a pessoa tem de ficar em solitude por um tempo, por um período. E a extensão do período dependerá de cada indivíduo.

Maomé ficou em solitude durante alguns meses; Jesus por somente alguns dias; Mahavir durante doze anos e Buda durante seis anos. Depende. Mas, a menos que você chegue ao ponto onde você possa dizer 'agora conheci o essencial', é imperativo ficar sozinho".